quarta-feira, 16 de abril de 2008

Texto de André Fagel repórter de “L’Illustration” de 28 de junho de 1903

Voo noturno do dirigível numero 9 de Santos=Dumont - a iluminação vinha de um holofote produzido nas oficinas de seu amigo Louis Bleriot
23 de julho de 1903 - Santos=Dumont subiu com um enorme e potente farol fabricado nas oficinas de seu amigo Louis Bleriot, e com o farolete instalado na proa de seu numero nove realizou o primeiro vôo noturno de um dirigível.

“Eu acabar de sentar-me no terraço de um café na Avenue du Bois de Boulogne, e estava saboreando uma laranjada gelada. De repente, fui sobressaltado ao ver uma aeronave descer bem à minha frente. A corda-guia se enrolou pelos pés da minha cadeira. O aparelho parou logo acima dos meus joelhos, e Santos-Dumont desembarcou. Verdadeiras multidões avançaram e aclamaram entusiasticamente o grande aviador brasileiro; elas admiram a coragem e o espírito esportivo.


Santos=Dumont pediu-me gentilmente desculpas por me haver assustado; após o que, ele pediu um ‘apéritif’, sorveu-o tranqüilamente, subiu de volta à aeronave, e foi-se, deslizando pelo espaço. Sinto-me feliz por ter contemplado o homem-pássaro com os meus próprios olhos.

No dia seguinte, eu fui até o Bois de Boulogne. Justamente quando meu carro ia transpor a Porte Dauphine, o homem-pássaro pousou no pavimento. Os policiais avançaram às pressas, fazendo parar todos os transeuntes a pé, a cavalo e em todos os tipos de veículos. Os cavalos trotadores relincharam, os motores roncaram nos automóveis que iam sendo bruscamente freados, sacolejando seus ocupantes. As babás que levavam crianças para um passeio ao ar livre mostraram-se nervosas. Que se passava? Seria algum conflito? Não. Era Santos-Dumont em outro dos seus passeios aéreos.

É noite. Eu vou caminhando sob as árvores. Subitamente tropeço numa corda. Esta não se parece absolutamente com a trança de Rapunzel. Ouço o barulho de folhas amarfanhadas acima de mim, e uma voz zangada grita:

Voo noturno de Santos=Dumont pelas ruas de Paris

‘Não consigo ver nada! Vou quebrar a cabeça!’ Levanto assustado o nariz, e vejo um monstro escuro cujo olho brilha com acitileno. Não é uma coruja gigantesca; é o tal veículo encantado de Santos-Dumont!

Já é madrugada, e eu estou voltando para casa. A ceia prolongou-se demais, e nós tivemos a idéia pouco sensata de experimentar novas bebidas de origem americana. Minhas pernas parecem ser de gelatina e minha cabeça não está lá muito certa. O Champs-Elysèes está deserto, no lusco-fusco da madrugada. De repente alguém me grita qualquer coisa. Trata-se, evidentemente de uma ilusão, pois não há ninguém por ali àquela hora. Mas não! Preciso acreditar em meus ouvidos! É realmente para mim que uma voz misteriosa grita: ‘Mova-se para a direita! Minha corda-guia vai atingi-lo’. É ele outra vez! Sempre ele! Ele, acima de todos! Desce mansamente na sua sacada, e seus criados trazem-lhe o café da manhã.”

domingo, 13 de abril de 2008

Depois do Prêmio Deutche

Dirigível Santos=Dumont numero 9 desce nos jardins do restaurante 'La Grande Cascade'
D epois do meu n.º 6, construí vários outros balões, que não me deram os resultados desejados. Há um ditado que ensina "o gênio é uma grande paciência"; sem pretender ser gênio, teimei em ser um grande paciente. As invenções são, sobretudo, o resultado de um trabalho teimoso, em que não deve haver lugar para o esmorecimento. Consegui, afinal, construir o meu n.º 9; com ele pude alcançar alguma coisa;
23 de julho de 1903 – “...Levantei-me às duas horas... A noite ainda estava escura e os mecânicos dormiam... Pude erguer vôo, franquear o muro e transpor o rio antes que o dia clareasse... Quando encontrava arvores. “saltava” por cima delas... Atingi a porta Dauphine e a entrada da grande avenida do Bosque de Bolonha que conduz diretamente ao Arco do Triunfo, esse lugar de encontro das elegâncias de tout-Paris. Então disse: Vou fazer o cabo pendente sobre a avenida do Bosque!...
Dirigível Santos=Dumont numero 9 flutua na linda Paris, a luz do por do Sol
Tive de descer tão baixo quanto o nível das linhas dos telhados dos dois lados da avenida... A isto é que chamo fazer navegação pratica... Fiz pois, o cabo pendente sobre a avenida... Assim, algum dia, os exploradores o farão rumo ao Pólo Norte.... Não se deve descer sobre o Pólo na primeira investida; mas que se faça um vôo circular para registrar observações e estar de volta à hora de sentar à mesa...
Santos=Dumont conduz seu dirigível de numero 9 proximo ao Arco do Triunfo

Eu teria podido fazer o cabo pendente por baixo do Arco do Triunfo; não me arrojei, porém, a tento. Tomei a direita do monumento, como exigiam os regulamentos... Mas aí apresentou-se um embaraço. Da aeronave, todas as avenidas que se cruzam a Étoile se assemelham... e só olhando para trás, ára consultar o Arco do Triunfo, é que encontrei minha avenida”.
Numero 9 na frente do Apartamento de Santos=Dumont

O inventor estacionou diante de seu apartamento, na esquina da rua Washington com a avenida Champs-Élysees enquanto a multidão aplaudia foi tomar um café em sua residência.


Santos=Dumont Tinha uma mesa e cadeiras gigantes em sua lassa de jantar.  - eram as "refeições a grandes alturas".
fiz dezenas de passeios sobre Paris, fui várias vezes às corridas, dele me apeei à porta de minha casa, na Avenida dos Campos Elíseos, e nele, quase todas as noites, fiz corso sobre o Bois de Boulogne (...)
Quanto à outra circunstância, a da primeira mulher que subiu numa aeronave, com ou sem companheiro, merece ser conservada nos anais da navegação aérea, pois
a moça subiu sozinha e dirigiu o meu n° 9.
Aida de Acosta na cesto do dirigível numero 9 de Santos=Dumont
A heroína, uma jovem e lindíssima cubana [Aída D´Acosta], muito relacionada na sociedade de Nova York, (…) manifestara-me seu ardente desejo de voar. (…) O simples fato de haver consentido, com a condição que a pretendente recebesse primeiramente algumas lições para a manobra do motor e dos maquinismos, diz eloqüentemente, suponho, da minha confiança no n° 9. Essas lições foram nem número de três, após o que, quando chegou a data de 29 de junho de 1903, que ficará memorável na história da aerostação navegável, minha jovem discípula elevou-se dos terrenos da minha estação, no menor dos dirigíveis possíveis.


Saiba como foi feita a reconstituição do rosto de Aida de Acosta