Santos=Dumont morou em Paris por 22 anos. Há um extenso roteiro pelos pontos por onde passou Santos=Dumont, incluindo o apartamento onde morou o inventor na Champs-Élysées, 114.
Foi-me muito difícil reconstruir as cores e o ambiente deste apartamento, para isso utilizei a descrição de vários biógrafos e a descrição feita pelos repórteres dos jornais da época.
Muitos descrevem detalhes de decoração rebuscada, Michel Benichou diz que as cores predominantes eram o vermelho e o rosa e Paul Hoffman, que até 1996 nunca tinha ouvido falar do flair de Dumont (fato muito comum nos EUA) fez uma pesquisa exaustiva, diz que os aspectos de decoração e ambientação são extravangantes.
Pode-se dizer que basicamente existem quatro ambientes distintos que aparecem sempre nas fotos: 1- a sala da rotunda, com a pirâmide ao fundo; 2-o escritório, com papel de parede com motivo coruja; 3- engenharia, onde testa modelos e tem peças de reposição, e 4- sala de jantar na parte superior, onde tem a mesa gigante.
De acordo com Antonio Sodré, em sua
biografia sobre Santos=Dumont “Santos Dumont, Um Heroi Brasileiro” o boato de
que Santos=Dumont seria homossexual, eteria uma decoração feminina, foi o resultado de uma competição comercial
como explica Paul Hoffman em seu livro Asas da Loucura:
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Escritório de Santos=Dumont foto frontal - S=D avalia uma peça de metal, detalhes a serem obsrevados: papel de parede com motivo da coruja, a mesa de radica, abajur e moldura art nouveau |
“ Os jornais de Nova York competiam
ferozmente entre si para atrair leitores, e o New York Mail and Express enviou
um repórter para entrevistar Santos=Dumont em seu apartamento em Paris para que
pudesse publicar uma historia exclusiva quando ele chegasse nos Estados
Unidos.”
Ainda de acordo com Sodré, Santos era
assunto quase que diário nas paginas do jornal concorrente, o New York Herald,
por ser uma celebridade e também por ser amigo do proprietário James Gordon
Bennett, milionário que vivia em Paris.
Naturalmente as noticias de primeira
mão sobre o aviador vendiam mais jornais.
Foi quando o editor do New York Mail and
Express resolveu empanar o brilho de Santos=Dumont, o próprio jornalista diz:
“O serviço de chá fica em um canto da sala
e lá ele bebe com freqüência essa bebida feminina. Tudo na sala é de extremo
bom gosto e nada indica, por um momento, um toque masculino”.
And the environment of N. 4 is the dinner in the sky room, where there is a giant table. |
Sodré conclui que o jogo de chá, bem como o
bom gosto de Santos foi o suficiente para este preconceituoso repórter criar um
artigo tendencioso.
Todos os outros jornais trataram nosso herói
de forma mais respeitosa tal como esta linda matéria feita pela revista britânica
“The Sketch” que vinha encartada na Illustrated London News para cobrir a
aristocracia e a alta sociedade da época.
Bom, como estou em meio a um processo
criativo, buscando entender a vida do aviador, bem como, criar as ilustrações
do meu livro, eu decidi colocar algumas referencias de pesquisa que fiz sobre o
apartamento que Santos=Dumont mantinha na Champs Elysées, 114 ou rue
Washington, 5 em Paris.
Sobre o Imóvel
Escritório de S=D |
Apartamento nos dias de hoje |
papier peint 2 |
Maçaneta da porta principal |
Sobre o Imóvel
Este é o plano detalhado do edifício onde morou Santos=Dumont. Localizado na Avenue des Champs-Élysées e na Rue Washington, no 8º arrondissement de Paris.
Esse edifício é composto por dois apartamentos por andar (aqui vemos o apartamento da esquina, onde S=D morava) e possui uma arquitetura interessante, incluindo detalhes como a rotunda de canto, as esculturas nas escadarias e vitrais decorativos.
Plan prontonil da casa da Rue Washington onde morou Santos Duomnt |
O edifício foi construído em 1893 pelo arquiteto Albert Le Voivenel para Heudebert.
Possui uma composição monumental com cinco vãos na avenida e uma rotunda de canto que abriga loggias, além de seis vãos na Rue Washington.
A fachada principal do edifício é ricamente decorada e possui uma entrada esculpida. A ferragem na porta também é notável, contribuindo para a aparência distintiva do edifício.
Maravilhoso hall de entrada e porta do apartamento Santos=Dumont. |
Ao longo do século XX, o edifício passou por algumas transformações. O rés-do-chão foi convertido em quatro lojas abertas, cada uma delas com montras de dois vãos. Uma dessas lojas é a boutique J.-M. Weston, um sapateiro, que ainda está presente até hoje.
O edifício tem um átrio de desenho pentagonal no centro, cercado por três asas que se apoiam nas construções adjacentes.
O acesso ao pátio é feito por uma passagem de veículos que antigamente permitia a entrada de táxis. Essa passagem é abobadada em formato semicircular.
Detalhe de anjos na janela da parte voltada para a Rue Washington. |
O edifício possui seis pisos superiores e, com quatro abaixo do nível do solo. A estrutura inclui a criação e relocalização de escadas e elevadores em todos os pisos, renovação de fachadas, substituição de caixilharia exterior e modificação de fardos em fachadas no rés-do-chão e 1º andar na rua e pátio. Além disso, houve a criação de um telhado de vidro no 5º piso.
O edifício está protegido pelo P.L.U. (Plano Local de Urbanização) e faz parte do Distrito de Champs-Élysées. Sua arquitetura e características são consideradas notáveis e valiosas, contribuindo para a identidade arquitetônica da área.
Papel de Parede, Motivo da Coruja |
Nos anos 1950, foram realizadas modificações nos apartamentos, incluindo a demolição de escadas de serviço antigas e a construção de novas escadas do lado da Rue Washington. O escalier principal (escadaria principal) também foi estendida para alcançar o nível do sótão.
Algumas partes dos decorativos do edifício foram retiradas para permitir a modificação das paredes da cage d'escalier (cage de escada).
Nos anos 1990, mais transformações ocorreram, incluindo a substituição de mais apartamentos por escritórios e a renovação do piso da cour principale (pátio principal) para criar uma pista de dança de uma discoteca.
Algumas propostas futuras foram discutidas, como a cobertura da cour (pátio) com uma grande verrière métallique (claraboia de metal) e a criação de uma trémie (abertura) nos pisos para oferecer diferentes alturas e espaços para os clientes.
A empresa Apple expressou interesse em utilizar o edifício para seus escritórios e uma loja.
Vista da fachada com rotunda. |
A Commission du Vieux Paris (Comissão do Velho Paris) examinou o projeto de reestruturação do edifício construído em 1893 pelo arquiteto Albert Le Voisvenel.
Mudanças propostas, como um novo socle commercial (base comercial) mais coeso para o edifício, foram sugeridas pela Comissão.
Fontes e Bibliografias
- GRAHAL, Étude historique et documentaire, 2015.
- Pascal Payen-Appenzeller et Brice Payen, Champs-Ély- sées : Dictionnaire historique, architectural et culturel, Paris, Ledico éditions, 2013.
Bacana esse mapa virtual versus real. Estou lendo o livro Asas da loucura e fui atrás do apto do nosso querido Santos Dumont. Parabéns.
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