quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Os Guardiões dos Museus de Santos=Dumont e Museu da Aeronáutica - OCA Ibirapuera

Luiz Pagano, Tizuka Yamasaki e Ricardo Magalhães - Cadé o Museu de Santos=Dumont?

Cadê os aviões e o acervo do antigo Museu da Aeronáutica da OCA do Ibirapuera?

Os museus deveriam ser instituições antigas e confiáveis, que nascem para preservar a história e homenagear os heróis, certo!? Então por que os Museus da Aeronáutica e de Santos=Dumont são fragmentados e impermanentes, tem seu acervo sempre espalhados e vivem sendo deslocados de lá para cá?


Isso cria uma situação quase insustentável para os chamados 'Guardiões de Museus'- pessoas com grande amor pela história, que, sem qualquer tipo de apoio e orientação política, gastam dinheiro do próprio bolso, perseguem os acervos, cuidam de seus pertences e lutam loucamente por lugares de exibição.

Legado e Mitificação

Essa foto da abertura da matéria carrega uma simbologia muito importante, a da ‘quase execução’. Nela vemos eu, Luiz Pagano, quem escreve esse blog, a amiga Tizuka Yamasaki, diretora do clássico filme dos anos 80 Gaijin, que desde aquela época quer fazer uma filme sobre Santos=Dumont e nunca conseguiu e o Professor Ricardo Magalhães, que luta incansavelmente pela preservação e divulgação do Pai da Aviação, Santos=Dumont.

Nós três formamos um grupo de “potenciais Jack London” com poder de mitificar Santos=Dumont, más parece existir uma mística força estranha, anti-brasileira, que nos impede de seguir em frente (saiba mais sobre essas forças negativas)

Quando eu tinha 16 anos, conheci uma das mulheres mais especiais de minha vida, foi Dona Ada Rogato (na foto, eu me sento a frente do Cesna 140 que ela usou para circunavegar as Americas).   Em 1983, eu queria trabalhar, fazer algo interessante e fui voluntário na limpeza de aviões no antigo museu da aeronáutica, na Oca do Ibirapuera. 

...na outra foto, por muita coincidência, a outra mulher mais importante da minha vida, minha esposa Jane (a do meio) pousam em frente a um Gloster Meteor MK-8, na última festa que aconteceu no museu da Aeronáutica, de dois anos do Flash Power Energy Drik em 30 de março de 1999, promovida por Arnaldo Waligora e Paulinho Machline. 

Se tem um homem que ama e luta por Santos=Dumont, esse homem é o grande irmão, Professor Ricardo Magalhães, que junto a mim, a Marcos Villares, sobrinho-bisneto do aviador, outros sobrinhos como o Arnaldo e o Jorge Dumont Villares, seu cunhado Ricardo Severo e um seleto grupo de amigos - não pensa duas vezes em dedicar tempo e dinheiro ao esforço de manter viva e íntegra a memória de Santos=Dumont.

Já na década de 1930 o Museu do Ipiranga passava por dificuldades, três anos após a morte de Santos=Dumont, Arnaldo Villares, Jorge Dumont Villares e seu cunhado Ricardo Severo, doaram uma boa verba ao museu para a criação da Sala Santos Dumont, com milhares de itens que pertenceram ao aviador.

O acervo era composto por um conjunto de 1.670 peças de variados tipos como documentos tridimensionais, iconográficos e textuais que pertenceram ao inventor ou foram produzidos em sua homenagem. No ano seguinte, sob a gestão de Affonso de d'Escragnole Taunay foi então criada a "Sala Santos Dumont". As obras de reforma do museu também foram realizadas e financiadas pela família de Dumont. 

Foto de minha visita ao antigo IV COMAR no dia 19 de outrubro de 2016, com objetos que pertenceram a Santos=Dumont 

A confecção do mobiliário expositivo foi executada sob medida no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (diz minha bisavó, Julia Maiello, que meu avó, Nicola Maiello veio da Província de Caserta, em Florença para esculpir moveis para a tal empreitada). 

Enfim, a inauguração aconteceu em 23 de outubro de 1936 e desde então teve-se muita dificuldade em se manter a sala e a memória do aviador. 

Nessa época também existia a idéia de criar um espaço para homenagear Santos Dumont no novo Parque do Ibirapuera, que estava em concepção. Instabilidades políticas no Brasil na era Vargas adiaram o projeto em 20 anos, sendo somente inaugurado em 16 de outubro de 1960, (nessa época já existia a fundação Santos=Dumont, criada nos anos 1950) nos pavimentos do Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, mais conhecido como Oca, projetado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera.

Foto de minha visita ao antigo IV COMAR no dia 19 de outrubro de 2016, com objetos que pertenceram a Santos=Dumont 

Mantido pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, o Museu da Aeronáutica contava ainda com o apoio do Ministério da Aeronáutica e de empresas particulares. 

O museu teve suas portas fechadas ao público gela em 1996 e passou a receber apenas alguns eventos particulares, como a festa de dois anos do Flash Power Energy Drink promovida por Paulinho Machline, Udo Holler e Arnaldo Waligora, que ocorreu no dia 30 de março de 1999, empresa que minha esposa trabahava na epoca. 

Mapa interno do Museu da Aeronautica / Oca - O P47 Thunderbolt estava no Museu TAM (hoje estão no acervo da Companhia) ,  a réplica do 14 Bis e Demoiselle, também no Museu TAM, o Planador IPT e o Ypiranga no Projeto Revoar

O museu foi definitivamente encerrado no ano 2.000, alegadamente em função da mega exposição "Brasil+500 - Mostra do Redescobrimento", que englobava também o prédio da Fundação Bienal e o Pavilhão Manoel da Nóbrega e reunia obras desde o período pré-cabralino até o século XX. A OCA do Ibirapuera passou a ser usada em grande escala para as exposições do "mecenas" Edemar Cid Ferreira, do "polêmico" Banco Santos.

Mapa interno do Museu da Aeronautica / Oca -  O Gloster Meteor - Museu TAM, o Lindo Jahú foi devidamente recuperado e está seguro no acervo do Museu TAM, o PT-19 e o Muniz está no Projeto Revoar

Com a revogação da concessão do espaço ocupado pelo Museu da Aeronáutica no parque, a Fundação Santos Dumont e a Prefeitura de São Paulo transferiram todo o acervo para uma área reservada no Parque CEMUCAM, em Cotia, que passou a se chamar Parque Santos Dumont.

Mapa interno do Museu da Aeronautica / Oca -  P-47 Thunderbolt, Curtiss-Wright Corporation, o “Brasil”, um Cessna 140-A de 90 HP que pertenceu a Dona Ada Rogato, North-American T-6 Esquadrilha da Fumaça e um Waco Aircraft Company C.S.O.

Em 2002 um novo museu foi inaugurado em Garulhos, e parte do acervo foi levado para la, como visto nessa matéria da revista ASAS desse ano.


Transcrição da Matéria

O comandante da BASP cel. Lima de Andrade, e o prefeito de Guarulhos, Eloi Pietà, inauguram o novo museu.

Inaugurado o Museu Aeronáutico de Guarulhos

Num evento dos mais concorridos, for inaugurado na manhã de 5 de dezernbro de 2002 o mais novo museu de aviação brasileira, o Museu Aeronáutico de Guarulhos, resultado de um convênio entre a Base Aérea de São Paulo (BASP), a Fundação Santos-Dumont e a Prefeitura de Guarulhos (ver ASAS n°10). O novo museu é localizado na própria BASP e, nesta primeira fase de implantação, conta com um hangar jonde estão expostos um Fairchild PT-19, um biplano Muniz M-7 eo North American T-6D Texan pilotado pelo cel. Braga na Esquadrilha da Fumaça) e um grande salão de exposições, climatizado e com lanchonete e revistaria. Neste salão, em excelentes condições de exposição, protegidas em vitrines de vidro, estão várias peças de grande importância histórica referentes a Alberto Santos-Dumont, como a nacele do 14-Bis, o cesto do balão Brasil (também usado nos dingivels N° 1.2 e 3). peças de seu vestuário e usadas por ele nos voos, documentos originais e outros itens Além disso, suspenso, está exposto um Demoiselle original.

Com a inauguração do museu, a população da Grande São Paulo volta a contar com um genuino espaço histórico de dicado à aviação, algo de que fora priva da desde o lamentável fechamento de museu no Parque do Ibirapuera.

O novo museu é totalmente aben ao público, funcionando de quarta a domingo das 9h00 às 16h00, com aces so pelo Portão G-3 da Base Aérea de São Paulo (BASP). O caminho é pela Ave nida Hélio Smidt, que vai para o Aeroporto Internacional de São Paulo (Cumbica), onde placas informam a saída para a BASP e o museu.

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Outro grande preservador de aeronaves é o o comandante Cesar Pulschen, do Projeto Revoar. 

Ele que já voou por Varig, Vasp, Gol, ABSA e atualmente opera na aviação executiva. Aficionado por aeronaves antigas, Pulschen tem um PT-19, de 1942, um PA11, de 1949, um Cessna 170, de 1954, e um biplano N3N, de 1940. "Meu prazer é restaurar e manter os aviões na forma original. Todos estão em condições de voo. Viajo muito para ir a encontros de aviões antigos", afirma o comandante, que tem uma casa com hangar no Vale Eldorado desde 2000.

Depois disso, a maior parte do acervo que estava na Base Aérea de São Paulo em 2007, em péssimas condições, bem como a parte que estava no CEMUCAM, biblioteca e materiais menores, que pertenciam a Fundação Santos Dumont, com o major-brigadeiro José Vicente Cabral Checchia a frente da Fundação Santos-Dumont na época. 

O Professor Ricardo Magalhães, Secretário do Conselho de Curadores da Fundação Santos Dumont foi o responsável por trasladar tudo para Santos, com recursos próprios, que recebeu diversas relíquias que foram adicionadas ao acervo do Museu de Aeronáutica de Santos o chamado ‘Museu Aéreo da Baixada Santista’, com curadoria do próprio Ricardo, administrado na época pelo Tenente Coronel Jorge Tebicheranede, de 2007 a 2008.

Mudanças na aeronáutica, que transformaram a Base Aérea de Santos em Núcleo da Base Aérea, com consequente redução de efetivo, fizeram o museu ser desativado e o acervo levado de volta para perto do museu do Ipiranga, destino inicial da década de 1930, no 4o COMAR, sob administração do Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno.

Lá um relatório da Fundação Santos=Dumont foi feito com peças do acervo,  acompanhado por Ricardo Magalhães, que com a ajuda de uma equipe da USP, fizeram o traslado. 

Criado em 27 de março de 1942, o Quarto Comando Aéreo Regional (IV COMAR), sediado em São Paulo (SP), encerrou suas atividades em agosto de 2017 se transformando em COMGAP, e com isso o acervo foi levado para o Yatch Club de Santos. 

Com a chegada da pandemia em 2020, sob a administração do major-brigadeiro Paulo Roberto Pertusi, parte foi trasladado de volta para a Base Aerea de São Paulo (este blog não teve acesso para onde foi levado a outra parte). 

Alguns dos itens do antigo Museu da Aeronáutica, como o hidroavião Jahu, utilizado pelo Comandante João Ribeiro de Barros para cruzar o Atlântico Sul, passaram por restauração promovida pela Fundação para ser exposto no então Museu TAM, em São Carlos. 

Luiz Pagano e Tizuka Yamasaki 

O grande sonho do comandante Rolim Adolfo Amaro, fundador e presidente da TAM Linhas Aéreas, e de seu irmão João Francisco Amaro, o Museu da TAM, inaugurado experimentalmente no dia 11 de novembro de 2006, no distrito de Água Vermelha, em São Carlos, anexo ao Aeroporto de São Carlos e LATAM MRO, funcionou por 10 anos, crescendo de 32 aeronaves para 100 delas. Dando sequencia ao infindável vai-e-vem de fechamentos de museus, esse também foi desativado em janeiro de 2016 com a transferência do acervo do Museu TAM para novas instalações, 12 de maio de 2018, a serem construídas no local onde se encontra o Memorial Aeroespacial Brasileiro, na cidade de São José dos Campos.

Hoje o acervo está na sede da Embraer e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), anexo ao Aeroporto de São José dos Campos. O acordo foi realizado na presença do presidente do Museu da Tam, João Amaro, do prefeito de São José dos Campos, do coronel Ozires Silva e demais autoridades do museu e da cidade.

Perdas irreparáveis

É evidente que em cada uma desses deslocamentos, independentemente dos esforços do Ricardo, meus e de nossos amigos, muita coisa se perde. Como tudo é feito com recursos próprios e as vezes, sem a anuência e conhecimento prévio emitidos pela aeronáutica, as dificuldades se multiplicam.

Espero de todo meu coração que um dia possamos ter a segurança e o prazer de termos um sistema de museologia dignos, bem como o enaltecimento de nossos mitos de forma comparável aos dos americanos, para que possamos enfim, contar nossa história com mais respeito, aumentando a amor e a dedicação do povo brasileiro à ciência e a cultura. 

Referências

AERO Magazine, Inner Editora

BUENO, Eduardo - Presentismo e Presentificação do Passado: a Narrativa Jornalística da Historia na Coleção Terra Brasilis – 2010; 

FAB, Força Aérea Brasileira | CPDOC». cpdoc.fgv.br.- Fundação Santos Dummont». www.santosdumont.org.br; 

Folha de S.Paulo - Descobrimento: Brasil 500 Anos vai expor carta de Caminha - 03/06/1999». www1.folha.uol.com.br;

GALANTE, Alexandre (15 de maio de 2018). «Museu Asas de um Sonho será instalado em São José dos Campos (SP)». Poder Aéreo - Forças Aéreas, Indústria Aeronáutica e de Defesa;

MEMORIAL  0122A - Lucas Nogueira Garcez ZH 2014;

MUNDO Educação.  - Como surgiu o avião? - Mundo Educação»;

Revista Turismo - Parque do Ibirapuera. www.revistaturismo.com.br: