terça-feira, 27 de maio de 2014

Santos=Dumont – Pai da ‘Filosofia Pós-escassez’

A idéia de Santos = Dumont de compartilhar conhecimento, sem qualquer compromisso com as leis de patentes, focando apenas o único objetivo de conquistar o vôo, certamente causou a antecipação da descoberta da aeronave até o início do século 20. Mas também foi a grande causa da má interpretação dos americanos conferindo aos irmãos Wright o status de inventores do avião.

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Santos = Dumont antecipou a filosofia "wiki" em mais de 100 anos, no qual todas as informações sobre uma invenção, em um processo de desenvolvimento específico, são colocados à disposição de todos, a fim de multiplicar as chances de avanço - abrindo oportunidades para um maior número de pessoas envolvidas na questão, visando a criação definitiva da tal invenção (o termo "wiki" para designar esse fenômeno aparece hoje no site da Wikipedia e também no livro "Wikinomics", de Anthony D. Williams e Don Tapscott) - saiba mais sobre Santos=Dumont pai da filosofia Wiki

O que hoje é conhecido como "filosofiade pós-escassez", também foi criado por Santos Dumont- mas hoje o termo "pós-escassez" ainda é tida mais como ficção científica, que uma ciência.

O processo de invenção / criação através do método de "pós-escassez" implica em usar com devoção intelectual completa, procurando resolver os problemas, em relação aos estágios de criação, levando em consideração que "podemos encontrar na natureza todo e qualquer recurso para resolver todo e qualquer problema".

A ‘pós-escassez’ é o método no qual a profunda observação da natureza, aliada ao mais perfeito uso da mente criativa, permite testar a exaustão todas as possibilidades para obter a invenção de algo, em sua melhor forma.

- A escassez acaba no momento em que percebemos a natureza ilimitada de recursos que consideramos, por ignorância, como escassos.-

Como o próprio nome diz, o método de ‘pós-escassez’ implica também em medirmos bem o uso desses recursos para que não haja desperdício e nem o mau-uso.

Veja a seguir a matéria na qual Santos=Dumont apresenta o uso de “placas aéreas” como parte da solução do desenvolvimento de um dirigível projetado para carregar passageiros, tal como um ônibus aéreo, e tire suas próprias conclusões.
 
Dirigível Santos=Dumont n.10 - "o Ônibus" com suas "placas aéreas" 
Jornalista e Artista do Evening Journal, Coffin, entrevista o inventor e explica suas idéias – 30 de julho de 1902

Por G. A Coffin.

Homem de fibra, intelectual e físico.
Essa é a impressão que você tem quando se conversa com Santos-Dumont, o aeronauta brasileiro. Ele é um fatalista. De modo geral, os navegadores do ar recorrem a todas as garantias em suas empreitadas perigosas, mas o Sr. Santos confia inteiramente ao seu dirigível, descartando o pára-quedas e apenas diz, elevando os ombros, quando considera a possibilidade de um acidente durante o vôo é abordado :
"Bem, então estará tudo acabado."

Ao discutir a navegação aérea, Sr. Santos é bastante cus-creativo*. Ele admite que a única maneira de se transportar passageiros em uma aeronave é de aumentar enormemente o tamanho do balão e que isso, naturalmente, faria com que seja mais difícil de se manejar em condições climáticas desfavoráveis​​.

O limite de flutuação ou poder de elevação foi praticamente alcançado, utilizando o gás de hidrogênio para as inflações.

Teoricamente, pode ser possível obter um gás que daria um maior poder de elevação. O aumento de potência seria pequeno e o custo grande. Mas a poupança seria tão duvidosa e os resultados tão pequenos que seria inútil cogitar sobre ele.

Assim como todos os outros, que estudaram o assunto. Sr. Santos verá que ele deve manter-se em outra direção procurar assistência em alguma outra fonte.

Sua mais recente experiência

Ele me informou que seu balão "mergulha" durante os voos. Balança como se estivesse cavalgando em uma ondulação do oceano.

A fim de corrigir parcialmente essa tendência o jovem aeronauta planejou duas partições em seu balão, que dividem o saco de gás em três compartimentos. As superfícies das partições não são envernizadas, tem pequenos furos e são porosas, permitindo que o gás se infiltre ou passe lentamente através ‘dessa membrana’, evitando os males do ‘repentino’ deslocamento de gás.

Para fazer o seu dirigível absolutamente estável Sr. Santos está prestes a adicionar algumas placas aereas à estrutura. Estes são quadros simples de algum material leve, mas forte. Bambu ou de alumínio, na qual, seda leve será esticada. O ajuste destas à vontade do operador irá se provar eficaz em dar maior controle a aeronave.

Esta leve alteração feita por Santos-Dumont não parece indicar nenhuma mudança muito radical na construção, mas na realidade é uma alteração notável de seu design.

O jovem brasileiro, para alguns, pode parecer um homem muito restrito, mas para mim a sua capacidade de ver as coisas de um lado só aparece como o resultado de que a qualidade suprema que todo homem bem-sucedido possui, ou seja, a concentração.

Ele vai aprender tudo o que há para ser aprendido e colocar a utilização prática de seu conhecimento, e ai então, desviá-la para alguma outra fase e lenta e seguramente, chegará a resultados práticos que o mundo inteiro haverá de apreciar.

Creio que quando ele dominar completamente o poder de elevação das placas aéreas, ele irá adicionar muitas dessas a seus futuros dirigíveis, e descobrirá que, sem dúvida, acrescentou muito para o poder de elevação, e por fim será capaz de construir uma nave capaz de transportar um grande número de passageiros sem aumentar o atual tamanho do balão.

Outra coisa que seria de grande ajuda em sua empreitada de navegação pelo ar seria a possibilidade de liquefação do hidrogênio. Se isso pudesse ser feito em condições comerciais, o Sr. Santos iria apenas ter que carregar alguns pequenos recipientes contendo hidrogênio líquido, e lançaria uma pequena quantidade de cada vez para manter o balão cheio. Há, naturalmente, muitas dificuldades no caminho, porem sabemos que, sem dúvida, serão por ele superadas, como outras tantas antes dessas.



*Cus-criativo –termo em inglês “cus-creative”, que se refere ao ato de canalizar a criatividade às customizações. Algo como uma criatividade dirigida ou direcionada às aplicações em pauta.

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A ' família'  de inventos de Santos=Dumont - desenho dele, de 08 de janeiro de 1929

Logica do processo o de inventivo de Santos=Dumont

 “O homem é incapaz de voar” – essa fala que era constantemente ouvida por Santos=Dumont não o desanimou. Sabia que o voo era plausível, tudo que tinha a fazer era abstrair o conceito de impossibilidade. Em sua mente não havia escassez de recursos, muito pelo contrario, S=D testou uma gama enorme de possibilidades reais de voo.

 Esses foram os passos dados por Santos=Dumont para obter suas invenções, observe que tal como a natureza faz, ele não deu saltos. Cada descoberta foi fruto de um processo de raciocínio (de uma mente privilegiada) aplicado em situações praticas, em uma sequencia logica impecável.

1 – Constatou que a invenção do avião, do voo do mais pesado que o ar seja possível, posto que os pássaros, insetos e outros animais voam;
2 – Começou seu processo inventivo a partir da tecnologia aérea em vigor, balões cativos e motores a vapor;
3 – Questionou o uso de motores a petróleo e passo a passo inventou a dirigibilidade dos balões;
4 – Evoluiu seu invento seguindo uma ordem logica de invenções até aperfeiçoar seu dirigível ao estado da arte;
5 – Começou a fazer experimentos com o mais pesado que o ar, estudou a flutuação do mais pesado que o ar com a ajuda da deslocação e da dirigibilidade (n.11 e n.14), e em testes na água (n. 18);
6 – Criou o voo do mais pesado que o ar (n. 14 Bis);

7 - Aperfeiçoou o voo do mais pesado que o ar em diversas outras aeronaves (n. 15 a n.20);

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