sábado, 22 de julho de 2023

Quem foi Edward C Boyce o homem que comprou La Baladeuse

 

Edward C Boyce conhecido por ter comprado La Baladeuse Nº9 e o Santos=Dumont Nº 8, foi o primeiro homem a pilotar um dirigível na América. Ele também era um arquiteto talentoso, magnata do setor de parque de diversões e coproprietário da Dreamland em Coney Island, bem como da White City em Chicago.

É importante dizer aqui que talvez o dirigível do Número 8, comprado por Boyce, seja o Numero 6 modificado, assim como o Nº 6 veio de modificações no Nº 5 após o acidente de 8 de agosto. Os critérios para a numeração dos dirigíveis de Dumont nunca foram claros.


Boyce foi sem dúvida uma figura multifacetada no início do século 20, que se dedicou à emergente aviação da época, tornando-se um dos pioneiros idealizadores do Aero Club of America.

É ai que vem a parte intrigante – não se tem a sua data de nascimento, óbito pouco se sabe sobre suas contribuições para o Aeroclube, nem mesmo uma boa foto dele.

Foto do escritório de Boyce 302, Broadway, NY - Catálogo de Parques 1904

Uma das afirmações mais intrigantes sobre ele é que ele teria sido o primeiro homem a pilotar um dirigível na América, conforme relatado no artigo do THE EVENING TIMES de 1º de outubro de 1902.

Matéria no THE EVENING TIMES de 1º de outubro de 1902.

“A disputa era entre o dirigível Santos=Dumont Nº 8 (alguns dumontologistas acreditam que possa ter sido o Nº 6), o grande dirigível que esteve em Brighton Beach durante todo o verão, e o Pegasus, dirigível do aviador rival, que estava em um estábulo em Manhattan”.

É curioso que as façanhas de Stevens tenham recebido mais destaque no registro histórico, enquanto Boyce permaneceu relegado a um papel secundário.


Quanto à descrição de Boyce, o artigo continua dizendo que “...Edward C. Boyce, um jovem rico, que era vice-presidente da Syndicate Construction Company, cujos escritórios são na 74 Broadway. Ele tem uma renda de $ 50.000 por ano, e uma paixão por experimentos, é sócio do Aeroclube, e sua luta foi em cumprimento de sua declaração de que Santos-Dumont nº 6 deveria voar, ele mesmo, más teve que contratá-lo para isso”.

Ué! Por que Dumont não poderia pilotar seu próprio dirigível em América? - ...continuemos...

“...Foi uma corrida importante.

...

O voo foi uma surpresa; Boyce começou sem qualquer aviso, o Sr.  Stevens viu o companheiro no ar e não estava disposto a permitir a honra da primeira viagem de dirigível na América ser de seu rival, então, em vinte minutos, depois que a máquina do Sr. Boyce estava no ar, ele tirou a sua do galpão em Brighton Beach e disparou para cima dos telhados das casas”. Pronto o Sr. Stevens também estava se aventurando sobre Manhattan.

A matéria diz que Sr. Boyce desceu suavemente em um campo, com tanta facilidade, que não teria quebrado um ovo, enquanto que Stevens caiu em um poste de luz elétrica e se embaraçou com os fios.

O vôo de Boyce era uma elipse irregular de Brighton Beach, no nordeste, para um campo em Sheepshead Bay. Ele circulou seu ponto de partida e realmente foi contra o vento na maior parte do caminho.

Este mesmo artigo foi publicado em jornais de todo o mundo, mas, no entanto, parece que o Sr. Boyce decide desaparecer da história por algum tempo.

É importante notar que o próprio Pégassus, que não era uma réplica do número 6, compartilhava características extremamente semelhantes dos dirigíveis de Dumont.

Ah, e também sabemos que nesse lindo galpão do Dreamland, o número 9 foi exposto antes de ir para o Smithsonian - Ainda bem que não foi queimado no grande incêndio de Coney Island de 1911.

Mas a questão permanece: por que a história de Edward C. Boyce foi tão negligenciada no registro histórico?

À esquerda, a barquinha e motor Clement da La Baladeuse Nº9 no Smithsonian, cedido por Edward C. Boyce - à direita, a barquinha do dirigivel de Leo Stevens em exposição no lindo pavilhão da Dreamland.

Eu tenho uma teoria, que talvez pareça um pouco conspiratória – a de que era por sua amizade dele com Santos=Dumont.

Sim, dizer que as aeronaves de Santos=Dumont, o Número 6, (talvez o Nº 8) e o Nº 9, compradas por Boyce, foram parar no Smithsonian Institution, tem uma péssima conotação política para a historia contada da America.

De qualquer forma, para mencionar razões menos conspiratórias, aqui estão outras razões possíveis:

A falta de documentação adequada: em uma época em que a documentação histórica nem sempre era tão abrangente ou detalhada, é possível que os registros sobre Boyce tenham sido perdidos ou não tenham sido preservados adequadamente;

La Baladeuse Nº 9 de Santos=Dumont, que foi comprado por Edward C. Boyce exposto num lindo galpão do Dreamland em Coney Island

Desigualdades históricas: Desigualdades históricas, como preconceitos de gênero, raça ou classe social, podem ter influenciado a representação e protagonismo de determinados indivíduos nos registros históricos;

Foco em outros pioneiros: em um campo competitivo como a aviação e a indústria de parques de diversões, nomes mais proeminentes podem ter recebido mais atenção, deixando figuras como Boyce na obscuridade.

Em Busca da Verdade Histórica.

Embora a história de Edward C. Boyce permaneça envolta em mistério, é fundamental continuar a busca por informações sobre sua vida e feitos. A pesquisa em fontes primárias, como jornais antigos, documentos comerciais e arquivos pessoais, pode lançar luz sobre o legado de Boyce. Além disso, é importante questionar a história oficial e buscar uma.

Se algum leitor souber algo mais e quiser acrescentar, por favor comente – Será um prazer saber mais sobre este grande homem. 

O Mistério dos Dirigíveis Número 6 e Numero 8

Para saber se existiu ou não um dirigível número 8, a resposta pode ser encontrada nas evidências e em artigos de jornal.

De acordo com um artigo no The Sketch of London em 4 de junho de 1902, o dirigível N.6 que foi resgatado do acidente na baía de Monte Carlo, Mônaco, em 13 de fevereiro de 1902, foi danificado no Crystal Palace em Londres (provavelmente sabotado), e por lá ficou até 1919 (pelo menos a quilha e o invólucro). Renato Oliveira acredita que o cesto exposto no Le Bourget é o que foi resgatada do mar.

Por outro lado, de acordo com o The Evening Times, em outubro de 1902, o Sr. Boyce voou com ele.

Portanto, é provável que o Sr. Boyce tenha pilotado o N.8 e não o N.6, Santos=Dumont fez uma cópia do N.6 para levar para a América.

O próprio Leo Stevens tinha várias cópias de seu dirigível espalhadas pelo mundo; 2 na Inglaterra 1 nos Estados Unidos e outro na Itália idênticos de 1902 a 1905.

Renato Oliveira afirma que "cronologicamente não havia como o N.6 estar em Londres e Nova York ao mesmo tempo".

O artigo do The Sketch of London, 4 de junho de 1902, com a foto do enorme galpão em um galpão especialmente construído para abrigar o dirigível Santos=Dumont N.6, perto do polo do Crystal Palace, em Londres

Bom, vamos aguardar, em breve ele lançará um livro sobre o assunto.

A seguir, coloco a matéria do The Sektch de Londres, de 4 de Junho de 1902

O olhar ameaçador com o qual, de acordo com Shakspere, a Fortuna olha pelos homens quando ela quer seu bem, ficou muito em evidência no que diz respeito ao Sr. Santos-Dumont. Dirigível após dirigível desmentiu seu nome ao afundar espontaneamente na terra; em mais de uma ocasião, o ousado aeronauta que esteve em perigo iminente de vida, e agora as luzes públicas que deveriam ter começado esta semana foram necessariamente suspensas indefinidamente. Até mesmo a habitual indiferença do Sr. Dumont deve ter sido duramente testada quando, em seu retorno de Paris, descobriu-se que o invólucro de seda de seu balão havia sido rasgado em vários lugares. O cenário do infeliz acidente, conforme o caso, foi o enorme galpão especialmente construído perto do campo de pólo do Crystal Palace. Havia sido considerado viável realizar alguns experimentos preliminares antes dos testes públicos, os dois assistentes franceses do inventor estavam ocupados ajustando a parte mecânica da embarcação quando seu proprietário chegou. Tudo estava aparentemente bem então, mas enquanto ele estava almoçando, descobriu-se que a seda estava rasgada e sem conserto. Detetives e policiais foram, é claro, imediatamente convocados para cuidar do assunto. A teoria era que o dano era malicioso ou, pelo menos, prejudicial;
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leia a matéria completa do THE EVENING TIMES, 1º de outubro de 1902




DIRIGÍVEIS RIVAIS EM CORRIDA EMOCIONANTE ATRAVÉS DAS NUVENS

Máquinas de Santos-Dumont e Stevens no alto do céu acima de Sheepshead Bay chamam a atenção dos entusiastas de corridas.

Dirigível de construção americana pilotado por Leo Stevens sai vitorioso sobre a embarcação brasileira. Más encontrou-se com contratempos.

NOVA YORK, 1º de outubro - A América realizou ontem sua primeira corrida de dirigíveis.

A disputa foi entre Santos-Dumont N. 6, o grande dirigível em que o brasileiro não iria subir e que esteve em Brighton Beach durante todo o verão, e o Pegasus, o aviador rival, que estava num galpão em Manhattan, e que fez uma ou duas largadas falsas.

Recepção de Satnos=Dumont nos Estados Unidos de 19 de abril de 1902. Momentos de alegria ao lado de Emmanuel Aimé e Samuel Pierpont Langley

Ontem ambos navegaram no ar.

O Santos-Dumont era operado por Edward C. Boyce, um jovem rico, que era vice-presidente da Syndicate Construction Company, cujos escritórios ficam no nº 74 da Broadway. Ele tem uma renda de $ 50.000 ao ano, e uma paixão por experimentos, é membro do Aeroclube, e sua luta foi em cumprimento de sua declaração de que Santos-Dumont nº 6 deveria voar, ele mesmo teve que contratá-la.

O Pegasus foi operado por Leo Stevens, um aeronauta e candidato ao prêmio de $ 200.000 que será disputado na Exposição de St. Louis. Ele fez muitas ascensões em balões de ar quente perto de Nova York.

Ambas as máquinas voaram alto, longo e bem. O dirigível Stevens cruzou o caminho do outro e foi muito mais alto, mas como foi um teste de divisibilidade há alguma dúvida se o voo mais alto conta para o nosso contra o homem que o fez.

Foi uma corrida importante.

Do solo, parecia que a máquina de vôo baixo era capaz de girar mais facilmente e estar mais sob controle do que a outra, mas o Sr. Stevens contesta isso.

Boyce começou sem qualquer aviso, o Sr.  Stevens viu o companheiro no ar e não estava disposto a permitir a honra da primeira viagem de dirigível na América ser de seu rival, então, em vinte minutos, depois que a máquina do Sr. Boyce estava no ar, ele tirou a sua do galpão em Brighton Beach e disparou para cima dos telhados das casas”. Pronto o Sr. Stevens também estava se aventurando sobre Manhattan.

Dirigível Santos=Dumont N.6 (ou talvez N.8) no galpão em Brighton Beach, NY

O Sr. Boyce desceu suavemente em um campo, com tanta facilidade, diz ele, que não teria quebrado a casca de um ovo. Stevens caiu em um telégrafo e poste de luz elétrica e se confundiu com os fios, mas não se machucou e sua máquina não foi danificada de forma alguma.

O vôo de Boyce era uma linha ondulada irregular de Brighton Beach a nordeste até um campo em Sheepshead Bay. Ele circulou seu ponto de partida e realmente foi contra o vento na maior parte do caminho.

O curso do Sr. Stevens era uma elipse dupla, de acordo com sua própria declaração, variando de Manhattan ao norte e oeste até seu local de pouso no poste telegráfico na esquina da Sheepshead Bay Road com a First Street.

Corrida desigual.

Ambos passaram quase sobre a pista de corrida e estavam à vista, espectadores, apostadores e jóqueis, e até os próprios cavalos não assistiam a mais nada. Foi tão sério que os Jockeys tiveram que ser advertidos na quarta corrida para cuidarem de suas proóprias largadas em vez dos dois grandes charutos que batiam no ar acima.

Eram 3:45 quando o Sr. Boyce fez sua largada. Ele havia descido ao Aerodome, que é como eles chamam o galpão onde um dirigível é guardado, para seu automóvel com sua esposa e dois filhos pequenos. Seu garotinho lamentou o fato de não poder acompanhar seu pai, e o Sr. Boyce deu a palavra para deixá-lo ir, chamando de volta instruções para seu grupo para encontrá-lo em Grimes Fields em Sheepshead Bay.

Recepção de Santos=Dumont em St Louis

As duas cordas na parte traseira das aeronaves que o seguram devem ser puxadas quando ele ascender. Mas uma delas não foi puxada pelo homem que a segurava. Subiu com o balão e foi apanhado pela hélice. Aqueles na terra que o viram tentaram desembaraçá-lo e, aparentemente, ele conseguiu, pois sua volta sobre o galpão foi tão suave e constante quanto um bonde fazendo uma curva. Então ele navegou em direção ao norte, de vez em quando descrevendo uma curva, primeiro para a direita, depois para a esquerda e assim por diante, até que finalmente afundou no campo para o qual apontava.

Outro dirigível Ahoy!

Enquanto isso, para o leste, a outra máquina havia subido e cruzou o ângulo reto com o curso da outra, da máquina de Stevens dependia de uma corda, que, diz ele, tem 1.800 pés de comprimento e age como a cauda de uma pipa, estabilizando o vôo. Tem suas desvantagens, pois assim que pegou, alguns fios de telégrafo, e Stevens ficou prisioneiro até que algum atacante cortou alguns metros de corda. Hi fez seu círculo elevado, bisbilhotando em curvas largas três quartos de milha no ar, enquanto o Sr. Boyce nunca subiu mais de 800 pés.

Quando o Sr. Stevens começou a descer, seus problemas começaram. Ele diz que uma manivela que controla a faísca de sua máquina se soltou e começou a lançar flashes elétricos por tanto tempo que o aeronauta temeu que eles incendiassem o hidrogênio, do qual ele tinha 22.000 pés em seu involucro de gás. Ao alcançar essa manivela, ele derrubou um plugue que controlava o maquinário e teve que pensar em descer imediatamente.

Sua corda longa e arrastada ficou presa nos fios elétricos em frente ao mercado de peixes de Lundy, Sheepshead Bay Road e First Street, e mais tarde sua âncora, que ele lançou, ficou presa nesses mesmos fios e houve uma exibição de fogo elétrico.

Stevens puxou as válvulas e desceu sobre o reator de luz elétrica e os fios, e metade da população daquela parte do mundo saiu e gritou para ele que seria grelhado vivo naqueles fios. Ele pulou na estrutura de sua máquina, no entanto, até que algum atacante conseguiu uma escada até ele.

Ele soltou suas cordas, que foram agarradas ansiosamente por tantos de meio milhar de assistentes voluntários quanto puderam segurar, enquanto ele conduzia a aeronave sobre os telhados para um grande terreno, onde a descida foi finalmente feita com segurança e conforto.

Em sua segunda viagem aos Estados Unidos após o Prêmio Deutsh, na primavera de 1904, Dumont marcou uma série de compromissos e demonstrações, e voltou à França em 28 de maio para fazer os vários preparativos, até ser frustrado em St. Louis. Em 12 de junho de 1904, Santos=Dumont parte para sua terceira e última viagem aos EUA a bordo do SAVOIE, ao chegar lá percebe que seu dirigível N.7 havia sido destruído (possivelmente sabotado). Na foto ao lado dos mecânicos Chapin e Dozon. 

A corrida foi um sucesso do ponto de vista de todos, menos do pessoal do bonde, que está imaginando que tipo de liminar valerá contra esses novos pássaros do ar que bagunçam seus fios com cordas de trilha e âncoras.

A âncora de Stevens foi bastante queimada pelos fios elétricos.


3 comentários:

Renato Oliveira disse...

Um grande mistério de um século sendo solucionado!

Renato Oliveira disse...

Detalhes inéditos em uma narrativa envolvente! O blog que me fez amar essa história!

Luiz Pagano disse...

Muito obrigado pelo carinho, meu amigo - a admiração e respeito são recíprocos.