Primeiro voo de Santos=Dumont com os fabricantes de Balão Lachambre & Machuron |
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“...tentaram provar-me que um balão, para ter estabilidade, necessitaria peso. Um balão de 100 metros cúbicos devia ser, além do mais, muito mais sensível aos movimentos do aeronauta na barquinha do que um grande balão de dimensões correntes.
Para evitar que meu movimento dentro da barquinha alterasse o centro de equilíbrio do balão pedi cordas maiores, o que terminou em um grande sucesso no que diz respeito ao equilíbrio e distribuição de peso.
Quando levei ao sr. Lachambre minha leve seda do Japão, ele me olhou e disse: "Será muito fraca". Ensaiamo-la ao dinamômetro e o resultado foi surpreendente. Ao passo que a seda da China suporta uma tensão de 700 quilos por metro linear, a delgada seda japonesa suportou uma tensão de 1000 quilos; quer dizer que provou ser 30 vezes mais resistente que o necessário em virtude da teoria das tensões. Caso extraordinário se considerar que ela pesa somente 30 gramas por metro quadrado!
Um fato que mostra até que ponto pessoas competentes podem se enganar, quando se apegam a julgamentos sumários, é dizer que todos os balões das minhas aeronaves são fabricadas com a mesma seda.
No entretanto, a pressão interna que eles têm de suportar é enorme, ao passo que os balões esféricos são todos munidos, na parte inferior, de um orifício que lhes permite alívio.
Balão Brasil |
Depois de pronto, o "Brasil" apresentou 113 metros cúbicos de capacidade, o que corresponde aproximadamente a 113 metros quadrados de superfície de seda. Todo o invólucro pesava apenas 3 quilos e meio. As camadas de verniz fizeram subir esse peso a 14 quilos.
A rede (filet du ballon), que muitas vezes pesa uns 50 quilos, não ia senão a 1.800 gramas. A barquinha, cujo mínimo ordinário é 30 quilos, apenas 6. O meu N.° 9 tinha uma barquinha que não atingia a 5 quilos. Meu "guide-rope", fino mas muito longo, pois media 100 metros, pesava 8 quilos, se tanto; seu comprimento dava ao "Brasil" uma boa elasticidade. Substituí a ancora por um arpão de ferro de 3 quilos.
Atendo-me embora á leveza em todos os detalhes, achei que o balão, apesar das suas reduzidas dimensões, teria forca suficiente para me levantar com os meus 50 quilos de peso e mais 30 de lastro, cheguei até a testar uma bicicleta amarrada às cordas, com a intenção de voltar de distantes lugares ao conforto do lar, mas infelizmente chegava muito próximo a tara total do balão e se tornou inviável, só voltei a fazê-lo no meu segundo balão o L’Amerique. E foi nestas condições de peso que fiz minha primeira viagem aérea.
Balão Brasil com filet du ballon (rede trançado que envolve o invólucro) - extremamente leve |
Em outra ocasião, em presença dum ministro francês curioso de ver o menor dos balões esféricos, quase que nem tomei lastro, 4 ou 5 quilos apenas, e não obstante fiz uma boa ascensão.
O "Brasil" era muito manejável no ar e muito dócil. Era, além do mais, fácil de embalar após a descida: foi com razão que espalharam que eu o carreguei numa maleta.
Antes da minha primeira ascensão no pequenino "Brasil", fiz vinte e cinco ou trinta em balões esféricos comuns, inteiramente só, ao mesmo tempo capitão e passageiro único. O sr. Lachambre, que se encarregara de diversas ascensões públicas, permitiu-me realizar algumas em seu lugar. Foi assim que subi em diversas cidades da França e da Bélgica. Isto evitava trabalho ao sr. Lachambre, a quem eu indenizava de todas as despesas e incômodos, proporcionava-me prazer e permitia-me praticar o "sport". A combinação acomodava a nós dois.
Duvido que, sem uma série de estudos e experiências preliminares em balão esférico, um homem obtenha qualquer probabilidade de ser bem sucedido com um dirigível alongado, cujo manejo é muito mais delicado. Antes de tentar conduzir uma aeronave é indispensável ter, a bordo dum balão ordinário, aprendido as condições do meio atmosférico, feito conhecimento com os caprichos do vento, penetrado a fundo as dificuldades que apresenta o problema do lastro, sob o tríplice aspecto da partida, equilíbrio aéreo e aterrissagem.
balão Brasil original |
Ter manobrado pessoalmente um balão esférico é, no meu entender, preliminar indispensável para adquirir noção exata de tudo o que comporta a construção e a direção de um balão alongado, munido de motor e propulsor.
Uma das ascensões do Balão Brasil - o grande amigo de Dumont, o matemático Emmanuel Aimé levou sua filha para acompanhar o evento |
Compreender-se-á assim que manifesto grande surpresa quando vejo inventores que nunca puseram os pés numa barquinha, desenharem no papel e até executarem, no todo ou em parte, fantásticas aeronaves com balões cubando milhares de metros, carregados de enormes motores, que eles não conseguem levantar do chão e providos de máquinas tão complicadas que nada faz marchar. Os inventores desta classe nunca manifestam medo porque não fazem nenhuma idéia das dificuldades do problema.
Se houvessem começado por viajar nos ares ao sabor do vento, enfrentando as influencias hostis dos fenômenos atmosféricos, compreenderiam que um balão dirigível, para ser prático, requer antes de mais nada uma extrema simplicidade de mecanismo. Alguns infelizes construtores, que pagaram com a vida sua triste imprudência, nunca haviam efetuado uma subida em balão esférico como capitão e sob sua própria responsabilidade. A maior parte dos seus êmulos de hoje, tão devotados ás suas tarefas, encontra-se ainda nas mesmas condições de inexperiência. Assim se explicam para mim os seus insucessos. Estão na mesma situação de quem, sem haver jamais deixado a terra firme ou posto os pés num bote, pretendesse construir e comandar um transatlântico.”
E ai então, Santos=Dumont relata o primeiro voo do pequeno Balão Brasil
Hélène de Raoul madrinha do voo inaugural do Balão Brasil |
Naquele instante minha aflição se transformara de forma imediata em grande alegria. Hélène justificou seu atraso ao fato de seu marido, um oficial do exercito Frances, estar na frente de batalha naquela manhã. A cerimônia de batismo tomou lugar como planejada, Hélène insistiu para que o balão fosse batizado com seu champagne predileto, a Dom Perrignon. Foi então que sem mais delongas tomei uma taça e logo subi aos ares”.
Hélène era de fato bastante importante para Dumont, e pelo visto, ela também o tinha com muito carinho, pois ignora suas preocupações com o ciumento marido para encontrar o aviador, segue ao jardin d'Acclimatation em Paris, somente para tomar com S=D uma taça de Champagne a título de viagem inaugural do Balão Brasil.
O L’Amerique
Dumont cansou de voar sozinho, e decide fazer um balão um pouco maior com 9,8 metros de diametros e cubagem de 500 m3. Ele tinha dois propósitos básicos, levar passageiros a bordo, e o mais importante, pensava em aumentar a força ascensoral a ponto de levar um leve motor e hélices para fazer as primeiras experiências com dirigibilidade.
Balão Esférico L'Ameirque |
O L’Amerique realizou diversas ascensões, no dia 12 de Junho de 1898 ficou em 4o lugar numa prova de percurso de 325km e o primeiro lugar numa outra prova de maior tempo de permanência no ar, cumprindo extensas 22 horas de voo.
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